Os bruzundangas (1923)


Os bruzundangas (1923)

Escrita numa época em que imperavam os rebuscados parnasianos, a obra de Lima Barreto só começou a ser compreendida e reconhecida muitos anos após sua morte. Somente em 1956, todos os seus livros, organizados em 17 volumes, foram publicados. Nos anos 60, Lima Barreto virou moda e passou a ser alvo de estudos, tanto no Brasil como no exterior. Seus romances e contos foram traduzidos para o francês, o inglês, russo, espanhol, japonês e alemão. Ele também foi objeto de estudo de teses de doutoramento nos Estados Unidos e na Alemanha. Romance pré-modernista, a história fala do destino tragicômico de um homem tomado pelo patrimônio ingênuo, numa quixotesca luta contra a corrupção dos políticos.
Os bruzundangas é um romance de Lima Barreto, escritor pré-moderno que fala da Bruzundanga é um país de ficção, localizado nas zonas tropical e subtropical, é um lugar muito parecido com o Brasil, onde se encontra, elites pouco cultas dominando e explorando o povo. Critica a legislação, a Constituição, baseada na de um país visitado por Gulliver, tem uma lei que diz que se a lei não for conveniente à situação ela não é válida, os presidentes, que são chamados de Mandachuvas, assim como os ministros, os heróis e os deputados; também critica o processo democrático que é corrupto; a ciência através da medicina; o exército e a política internacional.
O país vivia de expedientes, isto é, de cinqüenta em cinqüenta anos, ele descobria-se nele um produto que ficava sendo a sua riqueza. Naquele ano, isto há dez anos atrás, surgiu na Câmara um deputado que falava muito em assuntos de finanças, orçamentos, impostos diretos e indiretos e outras coisas cabalísticas da ciência de obter dinheiro para o Estado.
Logo no início da obra, o narrador faz referência à arte de furtar, seguindo sua narrativa crítica contra os samoiedas que é uma escola literária do país que só valoriza o cânone literário, deixando de lado a literatura oral e copiando hábitos e comportamentos de outros lugares que nada se enquadram com o país, como ocorria com a literatura brasileira da época. Nesse país, as pessoas valorizam muito os títulos de nobreza, que está dividida em dois grupos: os doutorais e os palpites, assim chamados porque todos querem ser doutores a qualquer preço, ainda que seja através do palpite de ter sido nobre, para dessa forma poderem usufruir das vantagens sociais que apenas esse grupo desfruta.
O narrador que é um brasileiro que morou uns tempos nesse país, vai fazendo de forma satirizada uma crítica a todas as organizações institucionais e algumas pessoas desse país.
O livro é um diário de viagem de um brasileiro que morou tempos na bruzundanga, conheceu sua literatura , a escola samoieda[falsa, monótona e afastada da cultura, com autores fúteis com a classe dominante]; sua economia confusa que exauri a riqueza do país, sendo dominada pelos cafeeiros da província de Kaphet. Mostra também a obsessão por títulos como os de nobreza e os de doutor, mesmo quando seus possuidores não são nobres e são pouco letrados. A seguir critica a legislação [a constituição, baseada na de um país visitado por Gulliver, tem uma lei que diz que se a lei não for conveniente à situação ela não é válida], a política [os presidentes, chamados Mandachuvas, assim como os ministros, os heróis e os deputados, são estúpidos e vazios], o processo democrático [tão corrupto quanto era na República Velha], a ciência, o resto da cultura [quase nula, por vezes perto do negativo], o exército e a política internacional. Repleto de caricaturas de personagens da vida política da época, como Venceslau Brás e o Barão de Rio Branco, o livro é uma crítica ferina a sociedade brasileira, sua literatura sorriso da sociedade e sua organização político-econômica.
Em os Bruzundangas o nosso mestre da sátira na literatura brasileira, simula uma viagem de um narrador brasileiro ao país dos bruzundangas, o qual em tudo assemelha-se ao Brasil do início do século passado e o de hoje, cheio de elites incultas que dominam um povo, de pobreza, obsessão por títulos e riquezas e uma literatura de enfeite, sem sentido e desatualizada.
O ensino na bruzundanga era composto de escolas mantidas pelo governo geral, pelos governos provinciais e por particulares. As crianças aprendiam que Bruzundanga era um país cheio de riquezas naturais, o que fato era. No entanto, tais riquezas não eram aproveitadas. O que se podia produzir o povo comprava pronto. A constituição da Bruzundanga foi feita por um pequeno grupo que se inspirou na constituição de Brobdining, o país dos gigantes. Porém, ela se afastou de tal princípio e passou a ser determinada a favor dos que estavam na “situação”, ou seja, os políticos e a constituição passaram a seguir favorecendo seus parentes e conhecidos.
A sua sociedade era estável, não era uma sociedade com muita tradição, e sua cultura era acumulada. Na grande sociedade estavam médicos, advogados, tabeliões políticos, dentre outros.
O personagem de destaque nessas crônicas é o Visconde de pencome que é uma caricatura de um personagem real de nossa história, o Barão do Rio Branco.
A política nesse país era cômica. Políticos eram nomeados pelo voto, mas quem votava não tinha a mínima idéia do que estava fazendo. O presidente tratado por mandachuva e engajado na política através do sogro que o queria em bom cargo para as filhas, chegou à presidência graças à sua ignorância e logo que se viu empossado se cercou de sua “clientela”. Cargos eram entregues devido à beleza dos candidatos que deveriam saber dançar, cumprimentar e sorrir para impressionar os estrangeiros, sendo que esses eram de grande valor para os Bruzundangas.
A legislação da bruzundanga também era criticada, pois a constituição que elaboraram, inicialmente seguiu os moldes dos países dos gigantes, embora depois tenham sofrido várias alterações.
A religião predominante era a católica apostólica romana. Existindo muitos frades e monjas que, no entanto eram estrangeiros.
Percebe-se na obra, as semelhanças com o Brasil do passado e ainda mais gravado nos dias atuais.

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